domingo, 10 de fevereiro de 2013

CUIDADO! ESTAMOS COMENDO E BEBENDO VENENO!


CADA VEZ MAIS AS PESSOAS SE PREOCUPAM EM COMER E BEBER DE MANEIRA SAUDÁVEL. AS FRUTAS, VERDURAS E LEGUMES, TEORICAMENTE MAIS SAUDÁVEIS, PODEM NÃO SER TÃO SAUDÁVEIS ASSIM! MUITAS DELAS PODEM ESTAR ENVENENADAS!!!!! CUIDADO! PODEMOS ESTAR CONSUMINDO VENENO!!!!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008


Abuso no uso de agrotóxicos na Chapada do Apodi

Limoeiro do Norte é a cidade que mais sofre com as conseqüências do uso indiscrimidado de agrotóxicos.
O abuso no uso de agrotóxicos na Chapada do Apodi causa preocupação à população de Limoeiro do Norte, e cidades vizinhas. Mas até agora nada foi feito para controlar esse tipo de atividade.
Em 2005, foram mais de mil casos de internamentos devidos à intoxicação por agrotóxicos no Ceará, segundo revelam dados sistematizados pelo Núcleo de Epidemiologia da Secretaria Estadual de Saúde (SESA). O número de internações por intoxicação por pesticida no Ceará passou de 639 em 2004, para 1.106 em 2005.
Embora estes números já sejam bastante elevados, há indícios de que eles estejam subestimados, segundo reconheceu Luciano Pamplona, técnico responsável pela Análise em Saúde do Núcleo de Epidemiologia (NUEPI), da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará. Foram tomados apenas os dados relativos ao Sistema de Informações Hospitalares, que não registra os casos que não necessitaram de internação para tratamento, como pode ser o caso de intoxicações sub-agudas ou crônicas, ou mesmo os casos agudos leves.
Conforme os dados de 2005, os municípios de Limoeiro do Norte, Tabuleiro do Norte e Jaguaribe apresentaram os maiores números de casos: respectivamente, 414, 117 e 99. Foi detectado um alto número de casos também nos municípios de São João do Jaguaribe(70), Alto Santo (69), Quixeré (63), Pereiro (45), Potiretama (37), Jaguaribara (34) e Ererê (30). Todos eles estão na área de implantação de grandes projetos de agronegócio, envolvendo empresas produtoras de abacaxi e outras frutas para exportação.
É preciso que as autoridades públicas responsáveis pela saúde, o trabalho, o meio ambiente, tomem as providências para conhecer melhor esta situação e interromper este ciclo de contaminação, adoecimento e, quem sabe, morte.
Del Monte Fresh Produce Brasil Ltda., localizada na fazenda Ouro Verde IV, na Chapada do Apodi, Limoeiro do Norte, seria a empresa que mais usa os venenos indiscriminadamente. Além dos prejuízos à saúde, famílias tiveram suas terras desapropriadas, passaram a ser funcionárias das empresas ou foram expulsas para as periferias da cidade.

O caderno Regional, do Diário do Nordeste, divulgou no dia 29/04/2008, uma reportagem especial sobre o uso e consumo de agrotóxico pelos cearenses.
Vejam a reportagem:
Agrotóxico usado de forma indiscriminada no Ceará, alerta Anvisa
O cearense não sabe o risco que corre na ingestão de alimentos tratados à base de agrotóxicos. Que muitos alimentos naturais contêm venenos e são vendidos normalmente para consumo, o relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelou na semana passada, identificando excesso de agrotóxico em algumas frutas e verduras. Mas outras revelações têm passado despercebidas da maioria da população. A primeira é que apenas dois estados da região Nordeste enviaram produtos para análise laboratorial (somente um tem laboratório próprio) e o Ceará, um dos maiores produtores agrícolas do Nordeste Setentrional, não faz parte da lista divulgada pela Anvisa.
A segunda constatação é que a mortalidade por câncer no Vale do Jaguaribe está bem acima da média mundial. Justamente na região em que mais cresce o agronegócio exportador cearense, pequenos e grandes produtores utilizam os venenos indiscriminadamente.
A reportagem constatou que qualquer pessoa pode comprar produtos agrotóxicos em alguns estabelecimentos de Limoeiro do Norte e Quixeré. De acordo com a Anvisa, o comércio do produto deve ser validado por notas fiscais e o descarte das embalagens deve ser monitorado. No entanto, consumidores e vendedores fazem vista grossa para a determinação. Pequenos comércios vendem o veneno como produtos comuns expostos em prateleiras.
Não existem provas da relação direta do aumento dos casos de câncer na região jaguaribana com o consumo de agrotóxicos. O fato de a quase totalidade da produção agrícola da Chapada do Apodi ser destinada para exportação refutaria a relação não fosse o flagrante da venda, nas ruas das cidades produtoras, de frutas que seriam exportadas e, por motivos dentre os quais o excesso de veneno, saíram das caixas de exportação. Em vez de eliminar os produtos irregulares, grandes empresas agrícolas alimentam o comércio informal local fornecendo, a baixíssimo custo, o produto a feirantes.
Outro problema constatado ocorre com a mão-de-obra nos perímetros irrigados. Trabalhadores que lidam com agrotóxicos reclamam de tonturas e desmaios cada vez mais freqüentes. A maioria usa Equipamentos de Proteção Individual(EPIs), outros confessam que não gostam de usar, mesmo a empresa obrigando. Trabalhadores denunciam que grandes empresas agrícolas, que oferecem até atendimento médico no local, estariam, com esses profissionais, maquiando laudos para desviar a atenção sobre as reais causas das doenças dos trabalhadores.
Casos
O agricultor José Valderi Rodrigues, de Limoeiro do Norte, briga na justiça para conseguir aposentadoria por invalidez, após perder parte da perna direita por uma infecção que, segundo os médicos que amputaram o membro, teria sido causada por uma substância contida nos agrotóxicos que ele jogava na plantação. A empresa, que nega qualquer responsabilidade no caso, não teria fornecido Equipamento de Proteção Individual. O caso já faz três anos.
Outro exemplo é o que acontece, há oito meses, com outro agricultor, Edson Adriano de Carvalho. Ele foi demitido “por justa causa” da empresa Del Monte, em Limoeiro, supostamente por abandono da jornada. Mas a justiça deu-lhe ganho de causa indenizatória, pois comprovou a ausência ao trabalho por conta de internação hospitalar, inclusive com atestado médico. O profissional de saúde que o tratou alertou que a doença estaria se agravando no trabalho. A reportagem tentou falar com a Assessoria Jurídica da empresa, por telefone, mas não conseguiu até o fechamento desta edição.
Informaões: Diário do Nordeste / Reportagem: Melquíades Júnior

segunda-feira, 5 de maio de 2008


Aumentam casos de câncer

A ingestão de alimentos com excesso de agrotóxicos pode causar, após anos de consumo, mudanças no metabolismo do organismo e no sistema nervoso, o que pode repercutir em doenças como hepatite e até câncer. Conforme os médicos, é difícil fazer a associação agrotóxico-câncer, já que algumas doenças estariam mais relacionadas a hipersensibilização de pessoas alérgicas.
No entanto, o contato, sob diversas formas, da população do Vale do Jaguaribe, especialmente Limoeiro do Norte e Quixeré, com agrotóxicos tem “coincidido” em mudanças no quadro clínico de muitas delas. No município de Limoeiro, o índice de mortalidade por neoplasias, o termo médico para câncer, está aumentando cerca de 10% ao ano.
De 2002, período da chegada de grandes empresas agrícolas à região jaguaribana, até o ano de 2006 morreram 781 pessoas nos municípios da 10ª Célula Regional de Saúde (Ceres), que compreende Alto Santo, Ererê, Iracema, Jaguaribara, Jaguaribe, Pereiro, Potiretama, Quixeré, São João do Jaguaribe, Tabuleiro do Norte e Limoeiro do Norte, sendo que este último lidera a lista de óbitos em todos os anos consultados pela reportagem.
Em 2002, o município registrou 37 óbitos por neoplasias, número que sobe para 56 no ano de 2006. As principais incidências de tumores se deram em fígado, estômago, pulmões, mama e próstata.
Registros
Os municípios com maiores registros são os mesmos que, há pouco mais de dois anos, foram citados em levantamento do Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador do Ceará (Cerest), sobre quantidade de internações por intoxicação no Estado do Ceará – de 639 em 2004 para 1.106 em 2005. Limoeiro do Norte liderava a lista.
Na época, a Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) tentou amenizar o resultado, alegando que houve falha na digitação e supervalorização dos números de internações em algumas cidades, principalmente as de grande cultivo agrícola.
Curiosamente, o quadro de mortalidade por câncer na mesma região apresenta o mesmo ritmo de crescimento da morbidade, conforme verificado no ano de 2005.
A reportagem ouviu alguns médicos das redes pública e privada do município de Limoeiro do Norte. Nenhum quis gravar entrevista e também pediram para não ser identificados, no entanto disseram não ter dúvida que os agrotóxicos usados na região têm “alguma associação” ao quadro de doenças que vem crescendo no município. Entretanto, como não existe nenhum estudo comprobatório, os clínicos avaliam que os casos registrados ainda se tratam de “especulação”.
Estudos
Estudos científicos comprovaram que os produtos químicos que compõem os agrotóxicos podem causar males à saúde humana, desde simples alergia a fortes distúrbios neurológicos. Conforme a coordenadora do Laboratório de Toxicologia da Universidade de Brasília (UnB), professora Eloísa Caldas, referência no assunto, existem mais de 400 pesticidas permitidos para uso e bactérias diferentes que causam efeitos diversos para a saúde. O problema é a difícil identificação das doenças ocasionadas.
“É um mal silencioso”, afirmou a professora Raquel Rigotto, do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), quando de um seminário na cidade de Limoeiro do Norte para discutir a contaminação das famílias pelos agrotóxicos de fazendas próximas às residências.
Intoxicações
Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS) ocorrem cerca de três milhões de intoxicações agudas por agrotóxico a cada ano no mundo, com aproximadamente 220 mil mortes. Alguns casos só são descobertos em estágio avançado das doenças. Os principais efeitos crônicos à saúde são alterações neurocomportamentais, depressão, neuropatias periféricas, dermatoses, alergias, pneumonites, fibrose pulmonar, hepatopatia, insuficiência renal, depressão imunológica, catarata, conjuntivite, desregulação hormonal, redução da fertilidade e câncer.
A professora Raquel Rigotto esclarece para o perigo da utilização dos coquetéis de agrotóxicos. Vários produtos químicos que, para apresentarem maior eficácia, são misturados de forma tanto laboratorial quanto informal.
O mal está nos diferentes períodos de carência para nova aplicação do produto. “Cada composto tem um período entre uma utilização e outra, quando vários estão juntos e são depositados com a mesma carência, há o risco de superexposição dos alimentos a alguns produtos”, comenta ela.
Especialistas acreditam que essa é uma das respostas para o excesso da substância metamidofós nos alimentos analisados na última pesquisa nacional realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária em 16 Estados. (MJ)
SAIBA MAIS
Casos
A organização Mundial de Saúde estima que 40 mil casos de câncer são causados por agrotóxicos a cada ano. A Agência Internacional de Tratamento do Câncer afirma que são difíceis os estudos sobre os efeitos de produtos suspeitos de serem carcinogênicos para o homem, particularmente quando baixos níveis de exposição estão envolvidos. A avaliação dos riscos de agrotóxicos pelos órgãos competentes é feita baseada em estudos em homens adultos, não levando em consideração a vulnerabilidade das crianças.
Essencial
Lavar bem os alimentos com água e sabão é essencial para reduzir os níveis de toxinas dos vegetais.
SAÚDE EM RISCO
Moradores bebem água contaminada
Limoeiro do Norte. Moradores de comunidades da Chapada do Apodi, neste município, reclamam que, vez por outra, estão bebendo resíduos de agrotóxicos na água que chega às casas. Pelo menos cinco comunidades da localidade são abastecidas com a água de um dos 15 reservatórios do Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi, apropriadas, portanto, para o consumo agrícola. O local é o mesmo utilizado pelas máquinas dedetizadoras, que capturam o solvente para misturar aos pesticidas a serem espalhados nas lavouras da área.
O problema parece ter tido início em 2004, quando análises laboratoriais comprovaram que o canal que destina água à localidade de Sítio Tomé e adjacências estava poluída com resíduos agrotóxicos. A situação foi averiguada pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), responsável pela distribuição de água no município. O documento da Câmara Municipal de Limoeiro do Norte, datado de 25 de outubro de 2004, pede que o Ibama “tome providências no sentido de descobrir os responsáveis por tal ato”, relata.
No dia 13 de julho de 2005 o episódio se repete, dessa vez com o flagrante de máquinas de pulverizar algodão sendo abastecida às margens do reservatório de água para consumo das comunidades de Tomé, Cabeço de Santa Cruz, Maçados, Lagoa da Casa, Ipu, Cercado do Meio e Carnaúbas. De acordo com técnicos do SAAE de Limoeiro, o sistema de captação é feito de forma segura no reservatório, e assim que sai de lá a água ainda passa por processos de filtragem e colocação de cloro. Ainda assim, tem morador que só utiliza a água para tomar banho, preferindo comprar água mineral no Centro da cidade.
O presidente da Federação das Associações do Perímetro Irrigado Jaguaribe Apodi (Fapija), Raimundo César, reconhece que a água de todos os reservatórios do perímetro são destinadas para o agronegócio e não estão apropriadas ao consumo humano. O tratamento da água destinada aos moradores é de total responsabilidade do SAAE.
A dona-de-casa Maria Iraci desconfia da água que bebe. Tem medo de pegar doenças. Segundo o líder comunitário do Sítio Tomé, José Maria Filho, no primeiro caso de contaminação do reservatório, foram encontradas várias embalagens de agrotóxicos jogados nas águas. A poluição só ficou evidente porque todos os peixes boiavam mortos. Crianças que pescavam no local, porque não puderam consumir os peixes envenenados que levaram para casa, jogaram para as galinhas e porcos, que morreram em poucos dias. (MJ)
Mais informações:
Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza(85) 3066.8044
Informações: Diário do Nordeste

terça-feira, 30 de setembro de 2008


Movimentos sociais de luto

A utilização de agrotóxicos por agricultores no Interior do Estado reflete um antigo modelo de manejo do solo.
Os movimentos sociais do Vale do Jaguaribe estão de luto.
Faleceu no último fim de semana o ex-agricultor José Valderi Rodrigues, considerado o símbolo na luta contra a utilização indiscriminada de agrotóxico no Estado.
Conforme denunciado há seis meses pelo Diário do Nordeste, havia mais de três anos que o agricultor, supostamente contaminado pelos venenos de agrotóxicos da empresa onde trabalhava, tinha perdido uma das pernas e intensificava o estado de deterioração de seu corpo. Segundo a denúncia acompanhada pelo Ministério Público do Trabalho, a empresa agrícola na Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte, não havia fornecido Equipamento de Proteção Individual (EPI).
Valderi faleceu sem saber de uma solução judicial para o seu problema trabalhista. Em 2005, com menos de um mês de trabalho em uma fazenda produtora de banana para exportação, o agricultor, vestido de camisa, bermuda e chinelas, trabalhava no setor de aplicação de agrotóxicos. Na terceira semana, um ferimento apareceu no seu pé.
Conforme seu relato e suposição dos laudos médicos (nunca conclusivos), ele teria sofrido uma infecção no pé causada por uma bactéria contida nos coquetéis de veneno. Em um intervalo de poucos meses foram seis cirurgias – cinco para extrair cada dedo do pé, e a última para retirar metade da perna direita. A alegativa da empresa de que o agricultor sofria de diabetes e havia sido acometido por algum “simples” ferimento não-relacionado ao veneno caiu por terra com exame, no início deste ano, comprovando negatividade para essa doença.
“Eu não recebi meus diretos, até minha carteira não foi dado baixa”, alegou José Valderi, na última visita da reportagem, em abril deste ano, para reportagem especial do Caderno Regional sobre o uso indiscriminado de agrotóxicos, em 29 de abril de 2008.
Após tomar conhecimento do caso pela matéria, o Ministério Público do Trabalho no Ceará decidiu acompanhar individualmente o caso de Valderi – geralmente são acompanhados casos trabalhistas coletivos. Com carteira de trabalho na mão e vários laudos e receitas médicas atestando o seu problema de saúde, Valderi concedeu ao jornal a última foto em vida.
Negligência dos poderes
Para Maria Pastora, da Cáritas Diocesana em Limoeiro do Norte, “a morte de Valderi representa a negligência do poder público, desde os órgãos de saúde, que não deram a devida importância, de investigar o caso da doença dele, à negligencia da Justiça, pelo tempo que passou com a carteira retida na empresa. Ele é uma vítima do agrotóxico, e para que isso seja provado é necessário que verifiquem os exames”, concluiu. A preocupação dos militantes sociais nos imbróglios agrícolas é que o laudo do óbito de Valderi não esclareça a real “causa mortis”.
A assessoria jurídica do Movimento dos Sem-Terra (MST)acompanhava de perto o caso do agricultor morto no último fim de semana. “Ele falece, mas o símbolo existe. A gente via o sofrimento dele como uma forma de mostrar que a luta de denúncia de tudo o que ocorre com trabalhadores relacionado a agrotóxicos é urgente e necessária”, afirmou o advogado Francisco Cláudio.
A médica e professora do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará (UFC), Raquel Rigotto, disse lamentar profundamente a perda de Valderi Rodrigues. Rigotto, com sua equipe de pesquisadores, desenvolve há mais de um ano pesquisa no acompanhamento do impacto dos agrotóxicos na saúde do trabalhador e dos consumidores de frutas no Ceará, com ênfase na Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte. O trabalho é patrocinado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq)“Tô vendo a hora morrer e não ver meus direitos”, afirmou Valderi, que deixa a esposa Maria da Conceição Gomes e dois enteados.
Agroecologia
A utilização indiscriminada de agrotóxicos por agricultores nos municípios do Interior do Estado ainda reflete um antigo modelo de manejo do solo, onde são consideradas as condições ambientais de cultivo dos recursos naturais. No entanto, é crescente na zona rural, experiências consideradas como ambientalmente corretas. A agroecologia é um desses exemplos, onde cultiva-se sem a utilização do adubo químico, mas de insumos naturais, feitos a partir de plantas, não ofensivos aos solos, à fauna, flora, água e aos trabalhadores rurais.
Relatório aponta problemas agrícolas
Em 2006, um relatório da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária apontou vários problemas de produtores agrícolas na aplicação de agrotóxicos, com casos letais à saúde. Conforme o relatório, 79% dos irrigantes declararam a utilização dos agrotóxicos. Destes, apenas 10% afirmaram ter e seguir o receituário agronômico. Apenas 3% faziam a calibração do pulverizador; 7% utilizavam Equipamentos de Proteção Individual (EPI) completo; 20% aplicavam em horário inadequado; 96% não conheciam a tríplice lavagem. Análise dos dados do Instituto de Combate ao Câncer (ICC) referentes ao período de 2000 e 2006 apontam que ser agricultor confere maior risco de ter câncer, com destaque para as localizações no mieloma múltiplo, na bexiga urinária, nos testículos, no pênis e a leucemia(sangue).
Fonte: Diário do Nordeste - Reportagem: Melquíades Júnior
*Imagem: Fac-smile do Caderno Regional, do dia 29 de abril de 2008.



sexta-feira, 16 de outubro de 2009


Agrotóxicos, o veneno nosso de cada dia

Por: Dr. Reuber Tadeu Vieira e Silva
“O médico empenhar-se-á em melhorar os padrões dos serviços médicos e em assumir sua responsabilidade em relação à saúde pública, à educação sanitária e à legislação referente à saúde”. Código de Ética Médica, Artigo XIV.
Há alguns anos adquiri uma pequena propriedade na Chapada do Apodi. Ainda com um pouco de mata virgem, que preservo até hoje. Um lugar de muito silêncio, muito ventilado, que fui aos poucos me apaixonando. E, como bom interiorano, dedico uma parte do meu tempo às atividades bucólicas.
Hoje já sinto um pouco o reflexo daquilo que chamamos de desenvolvimento, de geração de emprego e renda. Empresas de grande porte, do agronegócio, se instalaram na chapada, com grandes produções de melão, abacaxi, mamão, banana, e outras. Passaram a utilizar agrotóxicos em grande quantidade, com grandes reflexos para a saúde do trabalhador, sendo grande o número deles intoxicados, fato que ocorre em todo o Brasil.
Pequenos produtores passaram a agir da mesma forma. Utilizando agrotóxicos sem orientação técnica, com práticas agrícolas incorretas e em desrespeito à legislação. Os trabalhadores com menos recursos financeiros, e menor nível de instrução, geralmente utilizam equipamentos de aplicação manual, pouco ou nenhum equipamento de proteção individual, e não realizam exames médicos periódicos. Há poucos dias, acordei já quase quatro horas da manhã, com o ronco do trator, em plantação de mamão e banana, a cento e cinqüenta metros da minha casa. Pois que as nossas propriedades são separadas por uma estrada estreita, que chamamos corredor. Abri a porta e constatei que realmente essa máquina jogava uma nuvem de veneno cobrindo toda a plantação.
Há alguns meses, um avião que é muito utilizado aqui na chapada para jogar agrotóxico nas bananeiras, fazia a volta passando por sobre a minha casa, numa bela manhã de domingo. Saí e protestei, sendo que o aviador fez um vôo rasante sobre a minha cabeça. Depois, foi embora, e de carro, veio ao meu encontro, pedir-me desculpas, pois tinha errado a propriedade onde deveria aplicar o veneno.
A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) divulgou o resultado do monitoramento de agrotóxicos em alimentos em abril de 2008. O pimentão, o morango (um produtor de morangos, em São Paulo, perguntado se comeria os morangos da sua produção, respondeu que não teria coragem de comê-los), a uva, a cenoura e a alface foram os alimentos que apresentaram os maiores números de amostras irregulares referentes a resíduos de agrotóxicos. O agrotóxico movimentou sete bilhões de dólares no Brasil em 2008.
Em setembro, agora de 2009, a ANVISA recomendou o banimento em todo o país do ENDOSSULFAM, usado em culturas do algodão, cacau, café, cana-de-açúcar e soja, e do ACEFATO, usado nas culturas do amendoim, batata, brócolis, couve, citros, feijão, melão, pimentão, repolho e tomate. O ACEFATO só poderá ser usado em algodão e soja até 31/10/2013. Também, proíbe o uso do ACEFATO em jardinagem. Não poderá ser usada de forma manual ou costal (bomba nas costas).
O Brasil é atualmente o país que mais utiliza agrotóxicos em todo o mundo, assumindo essa posição a partir de 2008, quando superou os Estados Unidos. Ou seja, a parte da produção não agroecológica está sob influência de volumes enormes de defensivos químicos, muito além do que seria aceitável para que nossa alimentação diária não representasse uma ameaça à saúde.
O Brasil ainda permite, em sua agricultura, agrotóxicos que já são proibidos nas maiores economias do planeta que têm expressão agrícola. Usamos agrotóxicos que já são proibidos em toda a comunidade européia, nos Estados Unidos, no Canadá, no Japão, na China e na Índia. Permite porque as multinacionais têm poder desmedido sobre a agricultura brasileira, e por sua influência junto ao agronegócio. O próprio governo permite redução de impostos a essas empresas para que elas vendam mais, para que o agronegócio produza mais, e, conseqüentemente, que a população se contamine mais.
A Anvisa está tentando retirar do mercado Brasileiro 14 princípios ativos (substâncias) presentes em mais de 200 agrotóxicos. Mas a luta será árdua. Primeiro porque o registro de um agrotóxico no Brasil é eterno. Segundo, porque há apoio de setores políticos fortes, como a bancada ruralista, que exerce forte pressão, pela desregulamentação, com posições retrógradas como a de colocar a discussão sobre o uso dos agrotóxicos apenas sob a tutela do Ministério da Agricultura, deixando de fora o Meio Ambiente e a Anvisa.
Recentemente, a Anvisa definiu que até 2011 a cihexatina não deverá ser mais usada no Brasil, como já ocorreu nos Estados Unidos, Reino Unido, Japão, China e Áustria. A importação e o registro de novos produtos com a substância já estão proibidos. Ela é usada na produção de sete agrotóxicos, usados basicamente no cultivo de maçã, morango, pêssego, café e berinjela. Conforme a agência, ela pode causar má formação fetal, danos à pele, pulmões, visão, fígado e rins, além de risco de abortos e prejudicar o sistema reprodutivo.
O ENDOSSULFAN e o ACETATO, conforme estudos realizados, causam grandes danos à saúde. Problemas como neurotoxicidade, carcinogenese e toxicidade reprodutiva já estão documentados.
O ENDOSSULFAN está relacionado a doenças crônicas do sistema nervoso central (epilepsia e doença de Parkinson), a ações mutagênicas e genotóxicas e a alterações no sistema imunológico. A intoxicação aguda causa diarréia, enjôos, dor de cabeça, náuseas, chagas, dor de garganta e quadro clínico similar à asma.
Para reduzir o risco de contaminação por agrotóxicos potentes, como organofosforados e carbamatos, lave bem os alimentos em uma solução com uma colher de sopa de bicarbonato de sódio para cada litro de água. Isso elimina metade dos resíduos dessas substâncias. A medida não dispensa uma lavagem com vinagre e detergentes, que ajudam a eliminar outros microorganismos. As dicas são do médico e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Mauro Velho de Castro Faria.
Já a Anvisa avalia que, dependendo do nível de contaminação, pouco se pode fazer para driblar a ingestão de agrotóxicos. Para a agência, lavagens só adiantariam frente a bactérias. As recomendações oficiais incluem retirar folhas externas e cascas dos alimentos, consumir produtos da época e de produção local, variar a alimentação para evitar exposição a riscos constantes, consumir produtos sem venenos, como orgânicos ou agroecológicos.
Finalizando, e como conclusão, nós não podemos usar produtos que favoreçam o agronegócio em detrimento da saúde, uma vez que o uso desses produtos é responsável por forte incidência de câncer na nossa população, que precisa, portanto, ser protegida e informada. E, para quem mora na cidade, e dorme o sono dos anjos, é bom saber que o inseticida se degrada muito lentamente, permanece anos no meio ambiente, e se desloca a grandes distâncias pelas correntes de ar e de água.
Informações: TVJAGUAR.com.br (coluna Dia a Dia)
Fontes: Anvisa, O Eco, Jornais, Idec, Ecodebate

sábado, 15 de agosto de 2009


Pré-Grito: Protesto contra agrotóxicos

Nas comunidades, já se registram casos de câncer, que podem ter sido provocados pelo uso de agrotóxicos.
Um grito que não é de guerra, mas por paz. Eles querem vencer a batalha contra os agrotóxicos da lavoura e contra a captação de água para beber de um tanque com forte potencial de contaminação. Neste fim de semana, moradores de seis comunidades se reúnem na comunidade de Tomé, na Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte, para o "pré-grito", em preparação ao Grito dos Excluídos do dia 7 de setembro. Haverá debate sobre os problemas da localidade e divulgação do resultado do abaixo-assinado com as exigências para serem apresentadas aos órgãos públicos. A comunidade tem um dos mais altos índices de câncer do Ceará.
Moradores contam já ter visto embalagens de agrotóxico no tanque onde é captada água para uso humano. Pesquisadores da UFC acompanham os casos de câncer.
Reivindicação
Os moradores querem a mudança da captação da água para a primeira piscina do Projeto Irrigado Jaguaribe-Apodi, através de tubulação de PVC, e uma estação de tratamento de forma adequada. De acordo com as lideranças comunitárias da região, a água que consomem tem elevados riscos de poluição por agrotóxicos, visto que já foram flagradas embalagens dos produtos químicos na beira do tanque de onde é feita a captação. Além disso, as máquinas que pulverizam agrotóxicos na lavoura também captam água do mesmo local. O problema é denunciado pelas comunidades de Tomé, Macados, Lagoa da Casca, Carnaúba, Cabeça de Santa Cruz, Ipu e Maracajás.
Durante toda esta semana, as escolas das comunidades divulgam para os alunos os males que causam os agrotóxicos ao meio ambiente, e as formas de tornar o meio em que se vive mais saudável. Mas a campanha realizada entre hoje e que culmina amanhã, com todas as comunidades, tem como função conscientizar os próprios moradores, visto que as opiniões na comunidade de Tomé estão divididas: por dependerem do emprego nas grandes fazendas, alguns trabalhadores evitam participar da discussão sobre os agrotóxicos, por temer que isso vá prejudicar as empresas que hoje os empregam.
Num levantamento feito por voluntários da Diocese Católica, de 87 famílias ouvidas (são mais de 500 na comunidade), foram registrados pelo menos 17 casos de câncer, sendo maiores os de mama, pele e estômago. Os moradores acreditam que possa existir uma relação entre os produtos químicos, que os atinge inclusive por pulverização aérea, em mini-aviões que despejam veneno bem próximo às comunidades, e os casos de câncer. Uma equipe de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), que acompanha há mais de um ano as denúncias de contaminação por agrotóxicos em Limoeiro do Norte, já recebeu os nomes das famílias onde foram registrados casos de câncer.
De acordo com Maria Pequena, da comunidade de Tomé, o problema de contaminação por agrotóxicos e a captação de água em tanque com risco de contaminação é antiga. Outro problema enfrentado, dessa vez pela vizinha comunidade de Macacos, é o depósito de enxofre na terra, para aumentar a acidez do solo e, portanto, as condições de plantio de culturas como melão e abacaxi. O enxofre em pó é arrastado pelo vento e chega até a comunidade. Problema semelhante foi denunciado pelo Diário do Nordeste em 2006, por moradores das comunidades de KM 60 e KM 69 e constatado pela reportagem em visita ao local.
Programação
A programação desta semana e que culmina amanhã com várias comunidades em Tomé será feita de caminhadas com cantos, falas, distribuição de panfletos, exposição de um mural com a "árvore dos sonhos" e o "muro das lamentações", celebração eucarística, bênção e partilha de alimentos, marcando o "pré-grito dos excluídos".
MANIFESTAÇÃOGrito denuncia desigualdades sociais em todo o Brasil
Realizado há 14 anos no Brasil, o Grito dos Excluídos acontece todos os anos, durante as comemorações do Dia da Independência, no dia 7 de setembro. As manifestações ocorridas nesta data reúnem ativistas sociais e pessoas atingidas por faixas de discriminação social, cultural e econômica, como forma de se contrapor ao discurso oficial de integração nacional.
No Interior do Estado, as pastorais católicas e movimentos sociais participam do desfile de 7 de Setembro na contramão ideológica da data (questionam o termo independência). Os manifestantes realizam em suas cidades apitaços denunciando as desigualdades sociais, o racismo, a homofobia e a exploração econômica perpetrados pelos donos do poder.
O primeiro Grito dos Excluídos foi realizado em 7 de setembro de 1995 e teve como lema: "A Vida em Primeiro Lugar". A iniciativa surgiu a partir das Pastorais Sociais em 1994, em vista da Campanha da Fraternidade promovida anualmente pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A campanha apresentava, naquele ano, o tema: "A fraternidade e os excluídos". O Grito surgiu da intenção de denunciar a exclusão nas suas mais diversas formas, além de valorizar os sujeitos sociais. Esta série de manifestações aconteceu em mais de 170 cidades brasileiras e teve como símbolo maior uma panela vazia.
Dessa maneira, o Grito dos Excluídos se contrapõe ao "grito do Ipiranga", feito por Dom Pedro I em 1822, que teria dito a célebre frase "Independência ou Morte", mas que pouco significou para os menos favorecidos de então até os dias atuais. Na programação do Grito dos Excluídos deste ano, no Vale do Jaguaribe, será feito uma grande romaria da comunidade de Tomé até o município de Quixeré, com a participação de várias instituições do Interior e da Capital cearense.
Informações: Diário do Nordeste / Reportagem e Foto: Melquíades Júnior

terça-feira, 3 de março de 2009


Agrotóxicos estariam contaminando as águas

Assim como a Funceme, a Cogerh também faz coleta de água para verificar contaminação química.
Depois da Funceme é a vez da Companhia de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Cogerh) iniciar o monitoramento da qualidade das águas superficiais e subterrâneas no entorno dos principais perímetros irrigados do Ceará. A intenção é saber se os agrotóxicos utilizados na lavoura estariam contaminando as águas e, por conseguinte, a população. Diagnóstico ainda não divulgado foi realizado no Cariri e no Vale do Jaguaribe, que terão um total de 60 poços profundos monitorados pela Companhia.
Os agrotóxicos utilizados na lavoura passam do ar para as plantas, mas com a irrigação mecânica ou das chuvas, parte dos produtos químicos infiltra no solo. A região no entorno da Chapada do Apodi, envolvendo os municípios de Limoeiro do Norte e Quixeré, do lado do Ceará, e cidades do Rio Grande do Norte, possui um dos mais volumosos lençóis freáticos do Ceará. Parte da água é usada nos poços profundos e está em contínuo contato com as águas superficiais como, por exemplo, do Rio Jaguaribe.
Águas dos perímetros irrigados podem estar contaminadas por agrotóxicos.
No ano passado, foram colhidas amostras de poços profundos situados na Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte, para estudos da Cogerh. Com os milhares de litros de agrotóxicos jogados todos os meses no solo, moradores das comunidades têm demonstrado preocupação com a qualidade da água naquela área. Há vários anos, estudiosos da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam, unidade da Uece) e do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia (antigo Centec) de Limoeiro alertavam para a forte possibilidade de contaminação das águas de localização subterrânea.
O agricultor José Maria Filho, presidente da Associação de ex-Irrigantes do Jaguaribe Apodi, reclama que há vários meses a Cogerh realizou pesquisa com as águas subterrâneas na Chapada. “Ainda não disse nada, e a gente precisa saber uma informação. Porque eles não dizem, é por pressão dos ‘grandes’?”.
Poços monitorados
O diretor de operação da Cogerh, Ricardo Adeodato, confirma a realização de coleta de água, num diagnóstico das águas no entorno de perímetros irrigados do Vale do Jaguaribe e do Cariri, “mas só podemos divulgar o diagnóstico depois de todo o levantamento, mas anunciaremos ainda neste ano”, afirma.
Conforme o diretor de operação, a partir deste ano serão monitorados 40 poços na Chapada do Apodi, região jaguaribana, e outros 20 poços no Cariri. Serão identificados os produtos mais utilizados nas lavouras dos agropólos e averiguada a presença desses elementos nas águas. “A intenção é fazer com que as águas estejam no limite da normalidade”, assegura, esclarecendo que, em casos de contaminação, pode haver intervenção nos perímetros, “no sentido de que usem os produtos de forma que não contaminem as águas. A Cogerh por muitos anos tem se preocupado com a distribuição da água, agora é a vez de trabalharmos pela melhor qualidade dela”, assegura.
Há um ano e meio a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) avalia a qualidade das águas subterrâneas e superficiais no Perímetro Irrigado de Morada Nova. Já foram constatados inúmeros relatos de doenças em trabalhadores que manuseiam os agrotóxicos.
Mais informações:Cogerh
(85) 3257.8710

Fonte: Diário do Nordeste / Reportagem e Foto: Melquíades Júnior

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009


Trabalhadores preocupados com uso de agrotóxico

Casos de morte e doença levantam suspeita sobre impactos na saúde do manejo dos defensivos agrícolas.
Com mortes de trabalhadores rurais com sintomas parecidos, ocorridas no fim do ano passado, e, atualmente, dezenas deles com relatos de doenças supostamente causadas por agrotóxicos com que trabalham, aumenta a preocupação de médicos e familiares com a possibilidade de contaminação por agrotóxicos nas lavouras da Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte. Fraqueza no corpo, tontura, dor de cabeça, coágulos de sangue no vômito e mudança no tom da pele são alguns dos relatos de quem trabalha na aplicação dos defensivos agrícolas e na colheita de abacaxi.
Uma equipe de 20 médicos voluntários está fazendo consultas e exames nos trabalhadores. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin)e a Secretaria Especial dos Direitos Humanos acompanham a polêmica da contaminação por agrotóxicos na região jaguaribana.
A viúva Jarlene Matos, ao lado do filho, mostra documentos do marido Vanderley Matos da Silva, falecido com suspeita de contaminação por agrotóxico. (Foto: Melquíades Júnior)
O agricultor Vanderley Matos da Silva, 31 anos, trabalhava numa empresa multinacional exportadora de frutas em Limoeiro. Sua função era fazer o coquetel de venenos aplicados na plantação. São vários produtos químicos, com princípios ativos que livram as frutas de pragas na lavoura. E dão garantia de colheita ao produtor.
Em julho do ano passado, Vanderley começou a sentir fortes dores de cabeça, falta de apetite e insônia. A pele tinha aspecto amarelado, e em pouco tempo perdeu mais de dez quilos. Em agosto, com a suspeita de hepatite, passou por vários médicos em Limoeiro; enquanto isso, reclamava de fraqueza e, em algumas das vezes em que comia, vomitava, apresentando coágulos de sangue.
Após exames que não acusaram qualquer anormalidade em seu fígado, Vanderley teve resposta diferente em Fortaleza, onde exames comprovaram a necessidade urgente de transplante desse órgão.
Ausência de autópsia
Hospitalizado à espera de solução, o agricultor morreu no trigésimo dia de internação, em novembro passado. Deixou mulher e filho, que sustentava com o que ganhava na Del Monte Fresh Produce Brasil, onde trabalhou por três anos e sete meses. O relato acima foi dado pela esposa e pela irmã de Vanderley à reportagem e em denúncia ao Ministério Público do Trabalho de Limoeiro do Norte. Contudo, até mesmo pela inexistência de autópsia, não é possível comprovar se há relação de causa-conseqüência entre o quadro de saúde do trabalhador e sua atividade na empresa.
A morte de Vanderley foi a segunda de um agricultor que trabalhava na aplicação de veneno entre outubro e dezembro de 2008. Antes, falecera José Valderi Rodrigues, acometido por uma infecção, supostamente causada por bactérias presentes nos venenos que manipulou. Os dois eram moradores no bairro Cidade Alta, o mais populoso de Limoeiro e um dos que mais fornecem mão-de-obra para as empresas da Chapada do Apodi.
Colegas de Vanderley estão preocupados com a saúde. Têm apresentado sinais parecidos com os do agricultor falecido. “Uns colegas dele têm vindo aqui saber dos sintomas, porque trabalham com os venenos e estão apresentando os mesmos sintomas”, afirma a viúva Jarlene Matos.
Saúde debilitada
É o caso de “José” (nome fictício), que pediu para não ser identificado porque trabalha em empresa da chapada e teme represálias. Trabalhando há mais de dois anos perto da área de aplicação de veneno, José tem reclamado, nos últimos meses, de tonturas, fraqueza no corpo, falta de apetite e pele amarelada.
No mesmo bairro, um agricultor de 28 anos, que trabalha na mesma empresa em que José, apresenta doença na pele. As células do tecido epitelial estão ficando degeneradas. A família toda está preocupada, como a de “Francisco dos Santos”, da Cidade Alta, que passou apenas cinco meses trabalhando na colheita de abacaxi e precisou pedir licença médica após freqüentes dores de cabeça e registrar pouca mobilidade de uma das pernas.
Com o agravamento da situação, cerca de 20 médicos do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará (UFC), nos dias 31 de janeiro e 1º de fevereiro, realizaram consultas em 40 trabalhadores que atuam na Chapada do Apodi e estão preocupados com o próprio estado de saúde, suspeitando que a causa das doenças tenha sido o contato com os venenos.
Para o médico Antonio Lino, que atuou no município de Quixeré, que divide com Limoeiro o território cearense da Chapada do Apodi, embora não haja dados conclusivos sobre a relação agrotóxicos-doenças, uma série de fatos, que vão da localização do trabalho, da função exercida, dos equipamentos usados pelos trabalhadores aos sintomas “parecidos”, geram suspeita suficiente para se investigar o caso.
SAIBA MAIS
Câncer
Limoeiro do Norte tem um dos maiores índices de câncer do Interior do Ceará. Foram 190 casos registrados nos últimos sete anos. Médicos realizam estudos para verificar se há relação entre os casos e o uso de venenos por produtores. Em 11 cidades do Baixo Jaguaribe, agricultor e dona-de-casa são os mais acometidos por tumores malignos. Os principais casos verificados são de pele, cólo de útero, mama e próstata.
Perímetro
O Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi, em Limoeiro, é um dos mais importantes do Nordeste, gera mais de 15 mil empregos diretos e produz mais de R$ 60 milhões todos os anos.
Fonte: Diário do Nordeste / Reportagem e Foto: Melquíades Júnior
Mais informações:Departamento de Saúde Comunitária da UFC
(85) 3366.8044
Del Monte Fresh Produce
(85) 4006.1900

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009


Agrotóxicos: Empresa nega qualquer contaminação

A empresa Del Monte Fresh Produce, que atua na Chapada do Apodi e foi citada pelos trabalhadores à reportagem, se disse surpresa com as denúncias, garantindo que não há registro de problemas causados por agrotóxicos em seus funcionários e que o sistema de equipamentos de proteção usado é referência nacional.
Conforme o gerente jurídico e diretor de Assuntos Institucionais da Del Monte, Newton Assunção, não procedem as afirmações de que a empresa estaria contaminando seus trabalhadores com agrotóxicos. Por telefone, ele disse que “não houve ninguém doente por causa da empresa. Recebemos fiscalização freqüente do Ministério do Trabalho. Temos menos de 5% de ações trabalhistas e nenhuma está relacionada com acidente de trabalho. É um dado histórico, poucas empresas podem apresentar um projeto desse”, afirmou.
Trabalhadores do cultivo de abacaxi são alguns dos que apresentam sintomas suspeitos.
A Del Monte é a maior produtora de abacaxi e melão do Ceará, com forte impacto na empregabilidade rural e no valor das exportações no Estado. São aproximadamente 4.500 empregados diretos. No ano passado, a empresa produziu cerca de U$ 30 milhões em frutas no Estado. “A Del Monte está de portas abertas. O nosso almoxarifado é moderno, uma referência para o Nordeste, não falta Equipamento de Proteção Individual para nenhum trabalhador”, afirmou o gerente, para quem as críticas são de movimentos locais que querem pressionar a empresa.
Aberta a visitas
“Costumo dizer que não afirmamos que não existe intoxicação na região, informamos que não existe na Delmonte. Não podemos nos responsabilizar por outras empresas. As equipes que estão fazendo pesquisa podem nos visitar, recebemos com todo prazer”, concluiu.
A problemática dos agrotóxicos na Chapada do Apodi tem envolvido pequenos e grandes produtores. Além do uso dos produtos químicos por grandes empresas, uma das ressalvas feitas pelos profissionais de saúde é a facilidade com que são comprados os produtos por pequenos produtores, muitos dos quais são poucos “visados” pelas fiscalizações.
REPERCUSSÃOEntidades discutem problema na região
Limoeiro do Norte. Desde os primeiros casos de doenças até este momento, nada é conclusivo sobre a suposta relação entre agrotóxicos-doenças-mortes de trabalhadores rurais. A pesquisa que analisa os impactos dos agrotóxicos na Chapada do Apodi, liderada pela professora universitária Raquel Rigotto, teve início em 2006 e pode perdurar por todo este ano, pelo caráter detalhista do levantamento, que vai da informação sobre os produtos usados na lavoura à autópsia verbal, ouvindo os relatos das famílias de parentes mortos.
A reclamação de produtores e trabalhadores rurais com agrotóxicos é intensa há pelo menos três anos, conforme denúncias publicadas pelo Diário do Nordeste desde 2006. As matérias têm servido de subsídio para outros órgãos entrarem na discussão. Em novembro passado, a Agencia Brasileira de Inteligência (Abin) ouviu pessoas “estratégicas” dos vários lados da questão para saber o que pode estar acontecendo em Limoeiro. Os trabalhadores também foram entrevistados por representantes da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, do Governo Federal.
Fórum permanente
Um fórum permanente, criado desde o último seminário para discutir o problema em Limoeiro do Norte, acompanha a problemática. Participam UFC, Uece, Cáritas Diocesana, Diocese Católica de Limoeiro, ONG Conlutas, Via Campesina, 10ª Célula Regional de Saúde e Ministério Público. Em abril de 2008, os deputados estaduais Antônio Granja e Cirilo Pimenta, então presidentes das comissões de Saúde e Meio Ambiente, respectivamente, da Assembléia Legislativa do Ceará, asseguraram a realização de audiência pública para discutir o problema. Quase um ano depois, o tema ainda não foi objeto de discussão na Casa.
Fonte: Diário do Nordeste / Foto: Silvana Tarelho


81% dos produtores multados por mau uso dos agrotóxicos

03/02/2013

Operação apreendeu 30 toneladas de químicos na Ibiapaba; alimentos abastecem a maioria dos fortalezenses
Que comida chega hoje à mesa do fortalezense? Conforme relatório da operação "Mata Fresca", divulgado ontem, a resposta é clara: veneno puro, agrotóxico. O motivo é a superdosagem da aplicação em frutas e verduras. Após vistoria na Ibiapaba, uma das regiões de abastecimento da Capital, revelou-se que 81% desses produtores rurais estão fazendo mau uso dos químicos, foram multados, juntos, em R$ 58 mil em três únicos dias de vistorias.

Um dos problemas mais graves é o fato de o agricultor ter que lidar com os químicos sem os equipamentos individuais de proteção adequados
Mais de 30 toneladas de agrotóxicos foram apreendidos após verificação de venda ilegal, armazenamento e descarte irregular, produtos fora da validade e usados em grande excesso, mistura inadequada de químicos e ausência de equipamentos de proteção nos agricultores. Tudo gerando mil riscos para quem se alimenta e também manipula.

Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) pelo menos 30% dos alimentos que o brasileiro consome têm substâncias com níveis acima do permitido. O País é o maior consumidor de "veneno" do mundo.

A operação reuniu uma equipe multidisciplinar de 20 técnicos do grupo de trabalho constituído do Conselho Gestor do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos do Ministério Público Ceará (MPE). Ação ocorreu simultaneamente em sete municípios críticos: Viçosa do Ceará, Tianguá, Ibiapina, Guaraciaba do Norte, São Benedito, Ubajara e Ipu. Dos 22 produtores visitados, 18 estavam usando os produtos de forma irregular e 38% de um total de 13 estabelecimentos comerciais foram multados.

Relato de um desses agricultores da Ibiapaba é bem revelador da crítica situação. "Eu até como o tomate para não morrer de fome, mas não tenho coragem alguma de dar para o meu filho porque sei que faz muito mal".

No dia 28 de agosto de 2012, o Diário do Nordeste já relatava o aumento do número de diagnósticos de câncer entre os agricultores

Outra denúncia grave é a poluição de mananciais, nascentes que deveriam estar abastecendo as cidades estão, sim, causando doenças, disseminando veneno. Problemática mais agravada em anos de escassez de chuvas.

Para Vanja Fontenele Pontes, procuradora de Justiça do Estado do Ceará, essa operação foi um sucesso e espera-se que haja uma mudança de comportamento, um uso mais racional e adequado desses agrotóxicos. "O maior problema hoje é a utilização exagerada desses químicos nos alimentos. Isso leva a grandes enfermidades", afirma.

Para ela, todas as medidas judiciais serão tomadas para evitar que irregularidades continuem. Há que se fazer, além da punição, uma "sedução do produtor para a causa" a fim de que ele não rescinda no crime ambiental e possa ser um multiplicador de boas práticas no campo.

No próximo dia 20, essa equipe integrante da operação "Mata Fresca" irá se reunir na Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) para avaliar os resultados, planejar novas ações, mensurar as sanções, punições e pensar também estratégias de monitoramento.

Conforme o presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri), Francisco Augusto de Souza Júnior, um dos problemas mais graves é a contaminação direta do agricultor que tem que lidar no cotidiano com os químicos. "Fazemos a fiscalização do uso dos equipamentos de proteção especial, mas eles não usam. Estão sempre expostos, adoecendo".

Essa denúncias não são novas. Levaram ao assassinato, em 2010, do líder comunitário José Maria Filho. Em matéria divulgada no Diário do Nordeste, em 2012, já se relatava o aumento dos diagnósticos de câncer nos agricultores de Limoeiro, Russas e Quixeré. Estudos registraram aumento de 38% nos casos, conforme recente estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Para o presidente interino do Conselho de Políticas de e Gestão do Meio Ambiente do Ceará (Conpam), Iraguassu Teixeira Filho, há que, além de se fiscalizar, realizar também ações de assistência técnica aos pequenos produtores. "Temos que agir em várias vertentes, tem que se fazer uso consciente, acompanhado".

Compreendendo, no entanto, que o problema não se restringe ao Ceará e à Ibiapaba, o fiscal Federal Agropecuário, Francisco Leandro de Paula Neto, sugere que "novas ações devem ser levadas para outros locais como Cariri, Vale do Jaguaribe e Acaraú". Para Leandro, há que se cobrar melhoria na fiscalização e punição dos responsáveis.

IVNA GIRÃOREPÓRTER
FONTE: http://diariodonordeste.globo.com/m/materia.asp?codigo=1237910

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